EDUCAÇÃO DIGITAL COM PEDAGOGIAS DA CULTURA
- Uma boa proposta para um plano de governo -
Em
período eleitoral, a questão do acesso às novas tecnologias da informação bem
que poderia ganhar maior atenção nos programas dos candidatos. Promover a
educação digital parece uma ação simples. Não é! A presença de computadores nas
escolas, conectados à internet, não garante que sejam bem aproveitados em
termos de acesso à informação, ampliação da criticidade e favorecimento à
pesquisa e produção de conhecimento pelas crianças e adolescentes.
Um dos
mais conceituados estudiosos da relação entre as novas tecnologias e o futuro
do pensamento, Pierre Lévy, doutor em Sociologia e Ciência da Informação e da
Comunicação pela Sorbonne e pesquisador em inteligência coletiva pela
Universidade de Ottawa, adverte sobre a distância que existe entre a evolução
técnica e uma apropriação coletiva capaz de desenvolver-nos humanamente a
partir dela.
Lévy
comenta o caso da França, que nos anos 80 realizou um investimento
significativo em informatização do ambiente escolar, inclusive em formação de
professores,e mesmo assim teve resultados
aquém do esperado. A explicação é que as instituições educacionais portam uma
cultura pedagógica há séculos baseada no falar/ditar onde o professor é a
autoridade que controla as iniciativas, as condições e caminhos para o
conhecimento, enquanto para as novas conectividades e disponibilidades da informação
precisamos pensar relações criativas e uma ecologia cognitiva. Oficinas de
orientação e projetos de alcance cultural são parte da implantação das novas
tecnologias no ambiente escolar, caso contrário os resultados ficam devendo ao
potencial.
Em
Ourinhos, tive oportunidade de fazer a coordenação arte-educativa das
atividades do projeto Ponto Para Ler o Mundo, que, resumindo, baseia-se na ideia
de Leitura de Mundo vinda de Paulo Freire e no uso das novas tecnologias. O
projeto desenvolve-se no contraturno e as crianças têm acesso a máquinas
fotográficas/filmadoras e computadores com ilha de edição e conexão. Propomos a
eles que atuem como jornalistas, produzindo reportagens e entrevistas. Eles
debatem temas, levantam dados, roteirizam a matérias e vão atrás de
produzi-las, depois de entender o básico da produção jornalística, através do
lead (O que? Quem? Onde? Como? Por que?). Não só se respeita a curiosidade como
se aguça a atenção ao propor o debate do que é mais importante em torno de cada
tema, essencial para a edição.
Bem,
esse é só um exemplo, entre uma galáxia de possibilidades que existem nas
Pedagogias da Cultura, aquelas que juntam os potenciais expressivos das
linguagens artístico-culturais com os pensamentos pedagógicos que estimulam a
criação das crianças.
Voltando
ao debate eleitoral, vejo poucas menções ao assunto por parte dos candidatos à
prefeitura em Londrina. Márcia Lopes tem um ponto no programa de governo,
chamado Londrina Cidade Digital, visando dar transparência aos dados da gestão
pública, prover ao londrinense acesso à
internet com sinal aberto em pontos diversos da cidade e ofertar educação
digital com qualidade nas escolas. Em especial, destaco a educação digital. Não
só é muito bem-vinda a proposta, como Márcia a respalda com a noção de que a
Cultura deve estar presente em várias ações de seu governo, transversalmente.
Ademais, vejo que é a candidatura capaz de gerar e dar sustentação para uma
ação desse porte.